Não temos aceito o que não se entende por que não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas e seguranças por não termos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada.
Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregues a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de sermos inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando estivéssemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E, a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia...
CLARICE LISPECTOR

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